“No século passado”, quando nadei e cursei a Universidade, haviam basicamente 3 ou 4 tipos de pernada: a de 2 tempos, 4 tempos, 6 tempos e a cruzada, sendo aplicadas conforme as distancias nadadas, durante 1 ciclo de braçadas. A pernada com menos batimentos era para o fundo, as com mais batimentos para velocidade e a cruzada basicamente era exercida pelas mulheres.
As pranchas que cheguei a usar eram de madeira de compensado naval do tamanho de um travesseiro e quando encharcavam pesavam meia tonelada. Depois apareceram as de isopor, que a galera gostava de cavocar, esfarelando e enchendo a piscina de bolinhas.
Também se batia pernas com o corpo paralelo a linha d’água, em 90 graus. Treinávamos muita, mas muita pernada, e forte! As séries chegaram a ser @1.30 e companheiros chegaram a fazer 1.02-1.04 nos 100m.
Hoje já temos as pranchas hidrodinâmicas que permitem rápido avanço e o material é o eva. Encontro 2 problemas básicos em relação a pernada. O primeiro diz respeito a iniciação, pois nas escolinhas, ainda se ensina a pernada com pranchas e na posição de 90 graus e pouco se exige na pernada de 6 tempos.
Professores pouco reconhecem os erros da pernada e vejo muitos, mas muitos nadadores fazendo pernada ascendente, quando deveriam ser descendentes. Os alunos tem pouco flexibilidade de tornozelos e também fazem a pernada a partir da coxa, aumentando a resistência.
Assim chegam aos treinadores, crianças que não sabem e não batem pernas. E volto sempre ao tema de que nós, os treinadores, temos que voltar a ser professores e, sempre ao invés de aperfeiçoarmos a técnica, temos que “corrigir” e ensinar novamente, cujo processo neuromotor, chega a ser assunto de tese.
Os aspirantes a nadadores não poderão chegar ao alto nível com uma pernada ruim, fraca, insuficiente e executada de maneira errada. A pernada é um fundamento de alta relevância, e assim como a respiração, não pode ser negligenciada, avançando o aluno na escolinha, sem a execução perfeita.
A pernada tem de ser executada de maneira semelhante ao batimento de uma nadadeira (pé de pato), como uma cauda de peixe. Sou adepto da tese de que pernada boa é pernada de 12 tempos! Há, podem dizer que é impossível! Não é não, basta estudar Cecil Colwin,
Os nadadores excepcionais, conseguem tornar a parte ascendente da pernada, propulsiva, da mesma forma que a descendente. É uma habilidade extraordinária, que envolve o ensino do professor, como também a inteligencia do atleta. De centenas a milhares de atletas que trabalhei, até hoje só tive 2 garotas, 1 Egípcia e 1 Canadense com esta espetacular capacidade.
Na beira da piscina de Mundiais e Olimpíadas, já podem ser observados atletas competindo com um batimento de 8 tempos, principalmente devido ao tamanho da tração dos braços, provocado pela técnica de nado e envergadura.
Se quisermos aumentar a probabilidade de sucesso e elevarmos nosso nível competitivo, o ensino e o treinamento da pernada no nado crawl, deve ser olhado com muito mais atenção e muito mais contemplado nos programas.
É melhor você trabalhar muito mais a pernada de seus alunos, e você nadador, trate de bater muita perna e forte, porque como a gente diz no GOLD “perna de 6 tempos é para os fracos” !
Foto Smooth