Exceção pelo dicionário, basicamente significa: o que não se submete à regra, desvio da regra geral ou privilégio. Podemos dizer que significa, na nossa descolada e atual linguagem: “fora da curva”.
Digo isso porque quero falar ou explicar sobre as chances de se chegar ao topo do alto nível. Vejamos uma rápida análise dos 50 Livre Masculino nas Olimpíadas:
- Na Natação dos JOGOS OLÍMPICOS (sim, Jogos Olímpicos é a competição e Olimpíadas é o termo que se refere ao espaço de preparação, entre um e outro Jogos!) são distribuídas apenas 14 Ouros Femininos e 14 Ouros Masculinos individuais nas Olimpíadas aos cerca de 900 Atletas participantes (chance individual de 0,03% no geral e de cerca de 0,01% para medalha nos 50).
- Nos 50 Livre masculino foram disputadas apenas 24 medalhas, pois foi introduzido no programa olímpico apenas em Seul (1988), portanto uma análise mais pontual e bem específica.
- Os 8 Ouros dos 50tinha foram ganhos por somente 4 países, dos quase 180 que participaram das provas e aí inclui o ÚNICO OURO DO BRASIL na Natação!
Fonte Wikipedia
Aproximadamente 600 nadadores de cerca de 180 países (estimativas), disputaram as 24 medalhas dos 50m Livre Masculino.
Destes cerca de 180 países, somente 7 países (cerca de 4%) as levaram para casa, sendo: 5Ouros, 4Pratas e 3Bronzes para os EEUU, 2O e 1B para a Russia, 1O, 2P e 1B para a França, 1O e 2B para o Brasil e Holanda, Croácia e Africa do Sul levaram 1 medalha cada.
Todas estas 24 medalhas foram conquistadas por somente 16 atletas (1,5 medalha x Atleta)! Destes 16 nadadores(2,7%), somente 7 atletas (1,17%) são donos de 15 medalhas (62,5%)!
Os nadadores mais destacados são Gary Hall com 2 Ouros e 1 Prata, Popov e Anthony Irvin (2000 e 2016!) com 2 Ouros , Matt Biondi e Manadou com 1 Ouro e 1 prata e no sexto posto de medalhista nos 50, Cielo com 1 Ouro (2008) e 1 Bronze (2012). Temos ainda uma terceira medalha (bronze) por Fernando Scherer, o Xuxa, em 1996. Ou seja o Brasil têm 12,5% destas medalhas, um índice bastante elevado.
MEDALHAS OLÍMPICAS DO BRASIL NA NATAÇÃO
FONTE Wikipedia
Porém este índice é diminuto, se comparado às mais de 1.200 (estimativa) medalhas individuais olímpicas da Natação (obviamente não disputamos todas as provas com todas as vagas). Temos apenas 11 medalhas em provas individuais de piscina, ou seja, bem menos de 1%! Outras 2 foram conquistadas por revezamentos e 1 em águas abertas.
Um número muito, mas muito escasso, para nossa Natação!
E mais, se analisarmos as provas que deram as medalhas brasileiras, são: 4 para 100 Livre, 3 para os 50 Livre e 2 para 400 Medley. Aí fica a questão, somos muito bons em livre? Considerando o alto índice de medalhas alcançado nos 50 Livre, nossa característica genética está para velocidade? Nossos nadadores (homens e mulheres) têm idade, altura, peso e IMC (índice de massa corporal) adequado ou correspondente a média de vencedores olímpicos e mundiais? Qual a razão que ainda não medalhamos em provas de estilos ou mais longas em JJOO?
Nada melhor do que embasar o meu pensamento e filosofia, através de Platonov, um dos mitos na Ciência do Treinamento, que há 15 anos atrás (2003), mesmo sem os atuais avanços da ciência, dos trajes, recursos ergogênicos e desenvolvimento técnico, afirmou que:
“A PRÁTICA MUNDIAL DA NATAÇÃO NA ATUALIDADE E AS PESQUISAS CIENTÍFICAS COMPROVAM, INDISCUTIVELMENTE, QUE OS MELHORES RESULTADOS SÃO ATINGIDOS APENAS POR ESPORTISTAS TALENTOSOS, QUE POSSUEM CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS RARAS, HABILIDADES FÍSICAS E PSÍQUICAS DE ALTO NÍVEL, ASSIM COMO MAESTRIA TÉCNICA E TÁTICA. COMO SÃO POUCOS OS NADADORES QUE DETÊM AS APTIDÕES CITADAS, COLOCA-SE A QUESTÃO COMPLEXA DE BUSCAR ESTES TALENTOS“, apud PLATONOV, V. – Treinamento Desportivo para Nadadores de Alto Nível, Ed. Phorte***, 2005, p. 53).
A revisão de nossos conceitos e metodologias se faz urgente e principalmente serem embasados corretamente! Estamos muito aquém dos resultados mundiais. No RIO2016, a equipe americana veio bastante renovada e vários nadadores que foram medalhistas no Mundial Jr um ano antes, medalharam no Rio.
Achar que podemos ter “garotos(as)” lá no alto do pódio, a exemplo de Rutha Meilutyte Campeã Olímpica aos 15 anos ou Joseph Schooling, que venceu Phelps com 17 anos, é um ledo engano. Há um tremendo problema! Não temos um Programa Nacional de Natação. Há uma grande diversidade sobre os programas, seja entre técnicas ensinadas em escolas de Educação Física, formadoras de novos professores ou técnicos, entre as práticas de ensinos em academias e escolinhas e os nados competitivos praticados pelos atletas. Estamos num país gigante de mais de + de 5.500 municípios, cerca de quase 1000 cursos superiores de Educação Física e outros tantos milhares de formadores da Natação, entre academias, escolas de natação, clubes, associações e projetos públicos e privados.
Se o interesse pelo esporte de competição vêm caindo vertiginosamente em nosso país, pois não há implantação de sistemas esportivos de base e combinados com certa elitização da prática da natação, com raras piscinas públicas, que inclusive vêm fechando equipamentos ou não têm verbas para manutenção, qual é a solução?
Uma revisão nos programas de ensino da Natação através da atualização e capacitação sistemática dos profissionais no atual sistema de ensino-aprendizagem será fundamental, somado à uma radical mudança nos programas de provas. Somente da quantidade é que vamos tirar a qualidade, e quando me refiro a quantidade, me refiro a “quantidade com qualidade”.
Nosso desafio como profissionais da Natação será aplicar o conceito de PLATONOV: formarmos “ESPORTISTAS TALENTOSOS COM MAESTRIA TÉCNICA”. Se nosso trabalho for de MAESTRIA, ficará mais fácil aparecer estes “RAROS ESPORTISTAS TALENTOSOS”. Ou se são tão “RAROS” estes deuses do Olimpo, então mais uma razão vital de nosso trabalho ser de “MAESTRIA” triplicada!
Precisamos repensar além da Natação, o esporte como um todo! Sim, somos NAÇÃO OLÍMPICA SEM LEGADO! Assim cabe a todos, em qualquer canto ou função, trabalhar e zelar pela formação de nosso elenco esportivo. Precisamos repensar não somente as formas do “ensinar natação”, como também reformular e estruturar os fundamentos da formação técnica-atlética de nossos nadadores de base (mirim a infantil) e principalmente de mudanças nos programas de provas em sua forma e conteúdo! O velho chavão de TUDOR BOMPA de que crianças são treinadas como adultos em miniatura vêm se acentuando!
Precisamos pensar no todo e no futuro da Natação.
A Natação ou o esporte só têm sucesso (patrocínios) SE TIVER RESULTADO! Quanto maior o resultado, maior o patrocínio. O ciclo do assistencialismo público ao esporte terminou com o RIO2016. O esporte está ameaçado, não por um novo governo, mas sim pela crise e recessão pública instaurada e o descrédito que herdou.
A quase totalidade dos fomentadores da natação competitiva não contam com recursos públicos, e terão de se refazer, planejar e principalmente se reinventar! Se o futuro olímpico do país depende da base e quantidade, estamos ameaçados. Se a curva esportiva está apontando para descendente, então temos de tratar de FORMAR e PRESERVAR os “FORA DA CURVA”!
Achar que somos o país dos 50tinhas, baseado neste percentual de medalhas olímpicas, também não está correto! Nosso sucesso internacional nas provas curtas e quase todas elas NÃO OLÍMPICAS, sim é louvável. Porém estes RAROS CRAQUES que temos ou tivemos no topo do pódio mundial, assim como os jovens campeões olímpicos acima mencionados, assim como Phelps, Bolt, Comaneci e tantos outros, estes SÃO EXCEÇÕES, SÃO OS “FORA DA CURVA”, digo novamente SÃO OS RARÍSSIMOS e obviamente foram forjados à MAESTRIA TÉCNICA!
Livros de PLATONOV


Editora PHORTE é apoiadora oficial da Clínica Internacional de Natação GOLD – 20 a 26 de janeiro de 2019, Santa Mônica Clube de Campo, grande Curitiba-PR.
ACESSE E INSCREVA-SE
